CENSO ESCOLAR E AS QUESTÕES ÉTNICO RACIAIS
Este sexto eixo do
Curso de graduação em Pedagogia PEAD/UFRGS, teve como seu ponto principal de
estudos e reflexões a diversidade presente no cotidiano escolar e suas
implicações.
A interdisciplina Questões Étnicos Raciais na Educação: Sociologia
e História, permitiu uma forte provocação com relação a reflexão desta
diversidade, sua trajetória histórica, as manifestações das diferenças
culturais no ambiente escolar e a luta contra a discriminação e o preconceito
racial, sendo a postura e atuação docente um forte instrumento para a educação
da diversidade.
Através do estudo de
diversos referenciais teóricos, pesquisa acadêmica, discussões concernentes ao
tema da diversidade e preconceito e a observação dos dados das turmas, é
possível verificar a veracidade da existência da diversidade na escola, sua
interculturalidade e, infelizmente a
presença de situações de discriminação e preconceito com relação a diferença
racial.
No período de
encerramento do ano letivo de 2017, foi realizada em uma Escola na zona sul de
Porto Alegre, o levantamento de dados da turma do primeiro ano do ensino
fundamental, o censo
escolar. Um fato muito significante na sistematização
destes dados, além da confirmação da existência de uma visível diversidade
racial na escola, é a dúvida das pessoas em relação a sua identidade cultural
ou racial, e ainda, a omissão de algumas pessoas com relação a declaração da
raça negra/preta. “A cor é uma metáfora de raça, isto é, uma categoria acionada
para demarcar diferenças e desigualdades raciais”(ARAÚJO,1987).
O censo
escolar é um levantamento estatístico sobre a educação
básica no Brasil, onde cada Escola
disponibiliza dados relacionados a instituição e aos alunos, para que se
tenha um maior conhecimento da comunidade escolar ,podendo assim organizar
estratégias para a educação desta comunidade. As questões raciais estão
presentes no censo escolar, com o objetivo de acompanhar esta diversidade e
buscar formas de promover uma educação igualitária e antirracista. O INEP,
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, dispõe
atualmente de diversos instrumentos de coleta de dados escolares, buscando
aprimorar a coleta de dados raciais nesses instrumentos, ampliando o debate
sobre as desigualdades raciais na educação brasileira.
“A problemática da diversidade no Brasil, embora
apareça nas discussões educacionais nos anos 1990, é antiga, acompanha a
história de lutas por inserção cidadã na sociedade empreendidas por indígenas,
negros, sem-terra, empobrecidos, outros marginalizados pela sociedade” (SILVA,1993).
É de extrema
importância para a construção de uma educação igualitária de apoio a
diversidade que se tenha as informações sobre quem é o aluno de nossas escolas
e como esta diversidade se dá. A declaração com respeito a raça, a cor e a
etnia nas pesquisas educacionais trazem uma forte relevância com relação a valorização do aluno e sua cultura.“
Classificação racial não se baseia estritamente no aspecto físico, como também
na posição social do indivíduo” (COSTA,1974).
As definições de raça e
cor são discussões constantes quando se trata de políticas públicas para a
diversidade, assim como, é também assunto polêmico nas pesquisas educacionais
como o censo escolar. A cor, desde muito tempo, traz uma categoria nativa, ligada a diferenciação
entre cidadãos livres ou escravos, descendentes de africanos ou dos povos
europeus. “A cor foi o principal conceito utilizado nas relações sociais do
Brasil para classificar pessoas”(GUIMARÃES,2003).
As discussões atuais
nestes setores estão voltadas a modificar tais denominações por termos
vinculados a etnia. Enquanto o conceito de raça é uma ferramenta de exclusão e
hierarquização de povos e culturas, os grupos étnicos seriam aqueles dotados de
algum grau de coerência e solidariedade, de pertencimento, de compartilhamento
de diversos atributos culturais, como linguagem, religião, tradições,
monumentos históricos e território. “O termo etnia transmitiria uma ideia de
pertencimento ancestral, remetendo a origem e interesses comuns”(GOMES,2005).
A história do negro no
Brasil, todo o escravismo e a trajetória de inferioridade em relação ao branco,
a chamada superioridade branca, abriram as partas para o ocultamento da
diversidade, desvalorizando as relações culturais entre o branco e o negro e
fortalecendo o racismo.
Já no início da
história deste país, o índio aparece como uma figura inferior , desvalorizada e
sem cultura, que também foi escravizado e, apesar de forçado a renunciar sua
própria cultura por ser considerada não civilizada é um personagem de grande
formação cultural no cenário brasileiro. “O Brasil, antes de ser descoberto,
não tinha cultura de espécie alguma; não haviam vilas e nem cidades, estava
pelo contrário, todo coberto de mato e era habitado por muitas tribos de índios
selvagens”(1927,p.7).
O preconceito racial e a discriminação se
apresenta de diversas formas em nossa sociedade, Na escola, lugar de grande
diversidade, isto não é diferente. É possível observar que a trajetória de luta
por igualdade, assim como, o sofrimento trazido pelo racismo, trouxeram como
resultado uma perda significativa na construção da identidade brasileira.
Sabemos que nosso país , com uma formação multicultural, é permeado de uma
miscigenação natural, mas a fuga do racismo, traz uma forte negação com relação
a raça negra. Temos negros que preferem declarar que são pardos e brancos que
se dizem pardos, tentando dizer que não são racistas. Este cenário, presente na
sociedade atual de modo geral, tem na Escola um lugar de representação, onde o
encontro de diferentes culturas acontecem e onde as situações de preconceito e
discriminação aparecem desde a infância, lugar este de muito poder de reflexão
social e formação de caráter democrático que implica muito na sociedade, a qual
se deseja muito modificar.
"A questão racial não é
exclusiva dos negros. Ela é da população brasileira. Não adianta apoiar e
fortalecer a identidade das crianças negras se a branca não repensar suas
posições. Ninguém diz para o filho que deve discriminar o negro, mas a forma
com que trata o empregado, as piadas, os ditos e outros gestos influem na
educação."(CANDAU, 2003,p.29,30)
O fato de existir uma
diferença histórica de desigualdade das populações negras em relação ao branco
é evidenciado, principalmente quando se trata de escolarização, acesso a
universidade e formação profissional. Segundo o IBGE,
esta diferenciação na educação das populações negras são instrumentos de
inferiorização e estigmatização social do negro nas relações sociais atuais.
Um marco na trajetória da luta contra o
preconceito e a busca da valorização cultural da população negra nas
instituições de ensino deste país, foi a criação da lei 10.639/2003 que torna
obrigatório o ensino de história e cultura afro brasileira e africanas no
currículo oficial da Educação Básica e inclui no calendário escolar o Dia
Nacional da Consciência Negra, o dia vinte de novembro. É notável que existe por parte do governo brasileiro,
o conhecimento da existência destas manifestações de discriminação e
preconceito e o desejo de uma educação igualitária, pois percebemos a criação
de diversas políticas públicas e educacionais que corraboram neste sentido,
tendo como exemplo a criação das cotas raciais para ingresso em universidades e
concursos públicos, os Parâmetros Curriculares Nacionais ,que trazem o tema
transversal Pluralidade Cultural, e o Plano de Ação para a Inserção das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro Brasileira e Africana, que tem como
principais princípios a socialização e visibilidade da cultura negro-africana,
formação de professores com vistas a sensibilização e a construção de
estratégias ao combate das discriminações, construção de materiais
didáticos-pedagógicos que contemple a diversidade étnico-racial nas escolas e
assim por diante.
Mas de nada adianta as
políticas públicas ,se não houver um movimento reflexivo nas escolas por meio
da intervenção pontual dos educadores na construção de uma cultura
antirracista, de valorização da sociedade multicultural em que vivemos e
através do ensino da história e da formação cultural brasileira. Não se trata
de falar de cultura africana no dia vinte de novembro, ou ainda enaltecer o
índio no dia dezoito de abril, mas sim de assumir uma postura de apoia a
diversidade. O ocultamento da diversidade é gerador do preconceito e opressão
racial.
As relações entre os
sistemas de ensino, as comunidades e a relação professor aluno são instrumentos
de mudança social.
É emergente que se ultrapasse os estereótipos e se busque
formar cidadãos participativos e democráticos, capazes de combater as
discriminações e preconceitos e ter a consciência da formação cultural
brasileira, valorizando as relações multiculturais que constituem a sociedade
brasileira, e este pensamento que deve e pode ser provocado na escola, por meio
de uma educação na e para a diversidade , deve ultrapassar o ambiente escolar e
tornar-se instrumento de mudança social. “Consciência política e história da
diversidade, fortalecimento de identidades e de direitos, ações de combate ao
racismo e a discriminações”(BRASIL,2004b,p.17).
Referências
bibliográficas:
ARAÚJO, T. C. A Classificação de “Cor” nas Pesquisas do IBGE: Notas para uma
Discussão. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.63,p.14 a 16,1987.
BRASIL. Resolução
CNE/CP 1/2004.Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnicos Raciais e para o Ensino de História e
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CANDAU, Vera Lúcia. Somos todos iguais? Escola, discriminação e
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COSTA, T.C.N.A.O Princípio Classificatório da “Cor”, sua Complexidade
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GOMES, N.L. Alguns Termos e Conceitos presentes no Debate sobre Relações
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