quarta-feira, 4 de novembro de 2015

     A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA ESCOLA 

          E      

   A   FORMAÇÃO DA IDENTIDADE ESCOLAR 


            
  

Conhecer a trajetória da escola ao longo da história, percebendo sua evolução,conquistas e principalmente,sua superação  relevante  no sentido social,administrativo e pedagógico,é muito motivador.Vê-la  vencendo as mais diversas dificuldades ao longo de seu processo de formação de identidade,nos leva a compreender suas especificidades e nos sinaliza seu poder dentro da caminhada da sociedade como um todo.

 O texto de Julia Varela e Fernando Álvarez-Uria,A Maquinaria Escolar,nos mostra as primícias da formação da escola,baseada fortemente na sociedade de divisão de classes e na religiosidade. Enquanto,Clarice Nunes,em (Des)Encantos da Modernidade Pedagógica,nos mostra o desenvolvimento da escola nos centros urbanos brasileiros,onde mesmo com imensas dificuldades políticas e estruturais,vivia-se um forte civismo,embasado pelo sentimento religioso,que resultava também em um aprisionamento opressivo e excludente,de preconceito social mascarado.


A criança,do inicio de nossos estudos, não tinha uma diferença acentuada dos adultos,longe de uma visão realista e sentimental,era vista quando conseguia valer-se por si e integrar-se por si mesma na sociedade.Segundo Phillipe Ariés,a infância se constituía de acordo com as classes sociais que estabelecia também toda a organização social,tendo a criança como um pequeno adulto em formação,misturando-se aos adultos em suas relações sociais.

Com o surgimento de um espaço fechado institucional,começou um grande processo de enclausuramento da criança,que passa a ser vista como a esperança da Igreja,que passa a se  interessar pelo "problema da pobreza" e então a propagar a  submissão e a naturalização das diferenças sociais,iniciando as novas formas de dominação social.Na “escola das primeiras letras”,a piedade cristã e a formação do juízo era mais importante do que ler e escrever e os “filhos de ninguém” eram adestrados para o ofício e moralização,com máxima repreensão e o mínimo de saber transmitido,eram ensinados a se contentar com pouco,enquanto as elites e os colegiais eram educados dentro dos bons costumes vinculados a família.

A partir do momento que se constitui a infância, surge a necessidade da formação de profissionais dedicados a educação,para nos colégios,iniciarem os processos de transmissão de conhecimentos e modelação de comportamentos.O que era uma educação rígida,com dureza de castigos e autoridade ,passa a ser afetiva e individualizadora, na formação dos perfeitos cavalheiros católicos.É o surgimento da sociedade da industrialização,nasce a  Escola Normal,que prepara especialistas para total entrega e abnegação da vida pública,preparados para transmitir técnicas de domesticação,condicionamento da ordem,da moral pelo seu próprio exemplo e desprezo pela cultura das classes populares e admiração pela cultura burguesa.Este profissional não tem alta remuneração,mas recebe grande prestígio social.

A Ratio Studiorum,documento que regulamenta ocupação do tempo e do espaço institucional,prevê a separação por seções,exercícios frequentes,distintos níveis de conteúdos,prêmios e recompensas. A escola deixa de ser lugar de isolamento passa a ser espaço social de preparação para o trabalho.

As classes enfileiradas,comparadas pelos autores a camisas de força, demonstram o poder de controle que a escola perpetuava na sociedade.

As escolas do século XX eram antigas residências,muitas vezes,em mau estado.As classes do passado,agora não existiam mais,mas faltava ar,água,luz e sobravam as repreenções e os castigos físicos.Era a escola das epidemias e dos castigos físicos.A religiosidade aparecia emaranhada nas práticas e rituais religiosos que invadiam as escolas por meio de festas,cerimônias e material didático.

Já nas décadas de 20, nos grandes centros urbanos brasileiros,encontramos a escola primária,totalmente ligada ao civismo,onde a República era a fonte da virtude,que homogeiniza todas as diferenças,e qualquer homem,mesmo de origem humilde,pode chegar a Presidência da República ou a propriedade de uma fábrica.Por outro lado,nesta mesma época,os descendentes de africanos,as classes trabalhadoras e todos que não tinham meios de subsistência,desempenhavam tarefas menos qualificadas e representavam a presença incômoda nas grandes cidades. As diferenças sociais estavam bem presentes na escola,nas moradias,nos transportes e no lazer.Era o início da favelização carioca e as escolas foram desocupadas,transferidas para bairros nobres,começou a duplicação dos turnos de trabalho,o que prejudicou o professor.

 O projeto do Major Vidal vem trazer a escola uma arquitetura específica,que desfaz o confinamento e torna a escola um espaço de reapropriação urbana.A escola que representa o corpo da criança sadia,que respira,enxerga,caminha,tem higiene.É o momento da moral,higiene e estética.Inclusive com um regime de forte pressão para o fortalecimento de tais hábitos.

As escolas deixam de configurar o campo familiar,privado e religioso e gradativamente,vão formando uma grande rede escolar formulada pelos governos municipais.Assim nasce uma reforma de espírito público,um alargamento da concepção de linguagem escolar,e a reformulação do espaço físico da escola,surgem as bibliotecas,laboratórios,quadras esportivas.

O instituto de Educação aparece como formador do novo professor,controlado pelos educadores liberais.Aparece a figura da mulher,valorizada pela missão do magistério.


De 1922 a 1935 acontece a construção de uma política educacional liberal no Rio de Janeiro,empurrando a escola para fora de si mesma,influenciando na cidade.Ela sai de um sistema baseado na cultura europeia e norte-americana para elaborar um conhecimento instrumental sobre a educação brasileira e a vida urbana,retira a educação da tutela da Igreja e do governo federal e conquista o direito de lutar contra os destinos escolares que a fragmentação social empunha.A produtividade do trabalho perde força para os problemas cruciais como saúde,habitação,uso do tempo e do espaço escolar.





A escola,ao longo do tempo,reflete tanto as mazelas como as superações sociais,representando a maneira que a sociedade se constitui,sempre reforçando suas especificidades ou buscando transformar o modelo social,enfrentando as dificuldades políticas e buscando acompanhar a máquina pública,formando e reformulando sua identidade formadora.     

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