A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA ESCOLA
E
A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE ESCOLAR
Conhecer a trajetória da escola ao longo da
história, percebendo sua evolução,conquistas e principalmente,sua
superação relevante no sentido social,administrativo e
pedagógico,é muito motivador.Vê-la
vencendo as mais diversas dificuldades ao longo de seu processo de
formação de identidade,nos leva a compreender suas especificidades e nos
sinaliza seu poder dentro da caminhada da sociedade como um todo.
A criança,do inicio de nossos estudos, não tinha uma
diferença acentuada dos adultos,longe de uma visão realista e sentimental,era
vista quando conseguia valer-se por si e integrar-se por si mesma na
sociedade.Segundo Phillipe Ariés,a infância se constituía de acordo com as
classes sociais que estabelecia também toda a organização social,tendo a
criança como um pequeno adulto em formação,misturando-se aos adultos em suas
relações sociais.
Com o surgimento de um espaço fechado
institucional,começou um grande processo de enclausuramento da criança,que
passa a ser vista como a esperança da Igreja,que passa a se interessar pelo "problema da
pobreza" e então a propagar a submissão e
a naturalização das diferenças sociais,iniciando as novas formas de dominação
social.Na “escola das primeiras letras”,a piedade cristã e a formação do juízo
era mais importante do que ler e escrever e os “filhos de ninguém” eram
adestrados para o ofício e moralização,com máxima repreensão e o mínimo de
saber transmitido,eram ensinados a se contentar com pouco,enquanto as elites e os
colegiais eram educados dentro dos bons costumes vinculados a família.
A partir do momento que se constitui a infância,
surge a necessidade da formação de profissionais dedicados a educação,para nos
colégios,iniciarem os processos de transmissão de conhecimentos e modelação de
comportamentos.O que era uma educação rígida,com dureza de castigos e
autoridade ,passa a ser afetiva e individualizadora, na formação dos perfeitos
cavalheiros católicos.É o surgimento da sociedade da industrialização,nasce a Escola Normal,que prepara especialistas para
total entrega e abnegação da vida pública,preparados para transmitir técnicas
de domesticação,condicionamento da ordem,da moral pelo seu próprio exemplo e
desprezo pela cultura das classes populares e admiração pela cultura
burguesa.Este profissional não tem alta remuneração,mas recebe grande prestígio
social.
A Ratio Studiorum,documento que regulamenta ocupação
do tempo e do espaço institucional,prevê a separação por seções,exercícios
frequentes,distintos níveis de conteúdos,prêmios e recompensas. A escola deixa
de ser lugar de isolamento passa a ser espaço social de preparação para o
trabalho.
As classes enfileiradas,comparadas pelos autores a
camisas de força, demonstram o poder de controle que a escola perpetuava na sociedade.
As escolas do século XX eram antigas
residências,muitas vezes,em mau estado.As classes do passado,agora não existiam
mais,mas faltava ar,água,luz e sobravam as repreenções e os castigos físicos.Era
a escola das epidemias e dos castigos físicos.A religiosidade aparecia
emaranhada nas práticas e rituais religiosos que invadiam as escolas por meio
de festas,cerimônias e material didático.
Já nas décadas de 20, nos grandes centros urbanos
brasileiros,encontramos a escola primária,totalmente ligada ao civismo,onde a
República era a fonte da virtude,que homogeiniza todas as diferenças,e qualquer
homem,mesmo de origem humilde,pode chegar a Presidência da República ou a
propriedade de uma fábrica.Por outro lado,nesta mesma época,os descendentes de
africanos,as classes trabalhadoras e todos que não tinham meios de
subsistência,desempenhavam tarefas menos qualificadas e representavam a
presença incômoda nas grandes cidades. As diferenças sociais estavam bem
presentes na escola,nas moradias,nos transportes e no lazer.Era o início da
favelização carioca e as escolas foram desocupadas,transferidas para bairros
nobres,começou a duplicação dos turnos de trabalho,o que prejudicou o
professor.
As escolas deixam de configurar o campo
familiar,privado e religioso e gradativamente,vão formando uma grande rede
escolar formulada pelos governos municipais.Assim nasce uma reforma de espírito
público,um alargamento da concepção de linguagem escolar,e a reformulação do
espaço físico da escola,surgem as bibliotecas,laboratórios,quadras esportivas.
O instituto de Educação aparece como formador do
novo professor,controlado pelos educadores liberais.Aparece a figura da
mulher,valorizada pela missão do magistério.
De 1922 a 1935 acontece a construção de uma política
educacional liberal no Rio de Janeiro,empurrando a escola para fora de si
mesma,influenciando na cidade.Ela sai de um sistema baseado na cultura europeia
e norte-americana para elaborar um conhecimento instrumental sobre a educação
brasileira e a vida urbana,retira a educação da tutela da Igreja e do governo
federal e conquista o direito de lutar contra os destinos escolares que a
fragmentação social empunha.A produtividade do trabalho perde força para os
problemas cruciais como saúde,habitação,uso do tempo e do espaço escolar.
A escola,ao longo do tempo,reflete tanto as mazelas
como as superações sociais,representando a maneira que a sociedade se
constitui,sempre reforçando suas especificidades ou buscando transformar o
modelo social,enfrentando as dificuldades políticas e buscando acompanhar a
máquina pública,formando e reformulando sua identidade formadora.
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