segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

            Refletindo com as ideias de Edgar Morin


 

AS CEGUEIRAS DO CONHECIMENTO:O ERRO E A ILUSÃO   


Edgar Morin em sua obra Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro traz um capítulo voltado ao que ele denomina As Cegueiras do Conhecimento:O Erro e a Ilusão,onde o educador nos leva a reflexão de que o conhecimento,sob forma de palavra,de ideia,de teoria,é o fruto de uma tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e,por conseguinte,está sujeito ao erro.Ele coloca que todo o conhecimento está sujeito a interpretação de seu conhecedor,suas vivências,sua visão de mundo e seus princípios de conhecimento,sendo assim é questionável,discutível e gerador de reflexão. A Escola deve-se dedicar as "cegueiras","erros" e "ilusões",isto é ,dedicar-se ao verdadeiro conhecimento,construído,vivo e reflexivo.
Ele traz a ideia da afetividade ser inseparável do desenvolvimento da inteligência,da curiosidade,da paixão que motivam as pesquisas filosóficas e científicas.
Morin nos exemplifica os erros mentais,como nossas próprias justificativas do que é mal,o egocentrismo e os sentimentos que usamos para mascarar as realidades.Aponta nossa memória como fonte falha de conhecimento,pois tende a reter o que nos agrada e apagar aquilo que nos traz encômodo.Ressalta os erros intelectuais,ou seja,um sistema pronto de ideias baseadas nas teorias,doutrinas,ideologias e culturalismo,são conhecimentos prontos que não se valem de questionamentos.A nossa razão,chamada por ele de racionalidade é a maior proteção contra o erro e a ilusão,pois ela é sempre corretiva,nos leva ao pensamento certo ou correto eticamente.A Racionalidade construtiva nos permite criar,promover,construir teorias e ideologias,enquanto a racionalidade crítica nos provoca a condenar as práticas ideologicas e culturais.O autor chama de racionalização quando deixamos de opinar,refletir,questionar e agimos de acordo com os conhecimentos e conceitos já prontos,pré-estabelecidos,tendo-os como absolutos,ou sistemas lógicos perfeitos.
Ainda traz de forma muito pertinente a questão dos erros paradigmáticos,ou seja,vivemos em uma sociedade cheia de paradigmas que limitam os conhecimentos e a renovação da mente,promovem o preconceito e as pré concepções sobre as aprendizagens e os conceitos,são concepções já prontas e formadoras de opiniões fechadas através de conceitos-mestres.

"A verdadeira racionalidade,aberta por natureza,dialoga com o real que lhe resiste.Opera o ir e o vir incessante entre a instância lógica e a instância empírica;é fruto do debate argumentado das ideias,e não a propriedade de um sistema de ideias"(MORIN,2002)

As ideias do autor nos provam mais uma vez que o conhecimento não é estanque e não existe o "dono do saber".Todo o conhecimento se modifica,está sujeito a ação de seus interpretadores,a cultura e a ideologias. A racionalidade,a efetividade,o diálogo e a reflexão devem estar presentes na Escola,aprimorando os conhecimentos e sustentando-os nas trocas,nas vivências,na pesquisa constante,no diálogo e na reflexão.É emergente que nossos alunos sejam educados a refletir,a questionar e a construir uma aprendizagem crítica sempre.

                        COMPLEXIDADE E INTERDICIPLINARIEDADE

Edgar Morin nos traz uma reflexão muito relevante com respeito aos conteúdos escolares,ou seja,como a Escola organiza os seus conhecimentos,seu processo de aprendizagem e faz uma forte crítica em relação as aprendizagens de nossos alunos.
Para ele o aluno deve se sentir parte integrante de todo o sistema de ensino,situar-se no mundo.
"Conhecer o humano não é separá-lo do Universo,mas situá-lo nele"(MORIN,2002)
Ressalta que,infelizmente,nosso sistema de ensino,característico de uma sociedade individualista, traz os conteúdos separados em disciplinas,desvinculando os conhecimentos,o que faz com que os alunos não estabeleçam conexões entre as aprendizagens,perdendo a noção geral de seus saberes,o conhecimento como um todo.Assim,defende que deve existir uma maior contextualização dos conceitos,uma reforma neste pensamento fragmentado que faz com que o aluno veja a Escola como várias "gavetinhas" com conhecimentos diversos que se diferem entre sí. Este conhecimento compartimentado torna-se desvinculado da vida prática do estudante.
Assim Morin traz o conceito da Transdiciplinariedade,onde os conceitos vão além da disciplina,onde existe um diálogo constante entre os conhecimentos e estabelecimento de conexões,o que o autor chama de pensamento complexo,que engloba várias dimensões,diferentes realidades e interações.Acredita que da interação entre os elementos emerge a novidade.
"Sistema Complexo:Conjunto de elementos que ativamente se relacionam entre sí,se mantem constantes ao longo do tempo e formam uma estrutura com alguma funcionalidade."


MORIN,Edgar,1921-Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro;Tradução:Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya;Revisão Técnica de Edgar Assis Carvalho-5ªed.-São Paulo;Cortez;Brasília,DF;UNESCO,2002.

MORIN,Edgar.Educação e Complexidade:Os Sete Saberes e Outros Ensaios.São Paulo;Cortez,2002

domingo, 3 de dezembro de 2017

             Características dos Estádios de Desenvolvimento


SENSÓRIO-MOTOR(0 A 2 ANOS)

-Periodo marcado pela ação sobre a realidade,sem representação da mesma
-Inteligência prática
-Egocentrismo
-Não conservação do objeto,ou seja,o objeto deixa de existir quando sai do campo visual.
-Anomia(ausência de lei ou de regra, desvio das leis naturais; anarquia, desorganização.)

PRÉ-OPERATÓRIO (2 A 7 ANOS)

-Início da capacidade de representação da realidade(jogo simbólico)
-Antropomorfismo(atribui características e comportamentos típicos da condição humana às formas inanimadas da natureza ou aos seres vivos irracionais.)
-Raciocínio transdutivo
-Pensamento irreversível
-Artificialismo
-Pensamento mágico
-Egocentrismo
-Centração do Pensamento
-Pensamento intuitivo
-Pensamento centrado na percepção
-Animismo
-Realismo 
-Realismo nominal
-Heteronomia(sujeição a uma lei exterior ou à vontade de outrem; ausência de autonomia.)

OPERATÓRIO CONCRETO(7 AOS 12 ANOS)

-Capacidade para realizar operações a nivel mental,porém relativas ao mundo concreto.
-Capacidade para realizar classificações e seriações
-Surge a noção de número
-Surge a reversibilidade de pensamento
-Surge a capacidade de conservação fisica dos objetos,como peso,quantidade e volume.
-Capacidade de jogar jogos de regras
-Descentração do pensamento
-Autonomia moral

OPERATÓRIO FORMAL(A PARTIR DOS 12 ANOS)

-Pensamento probabilistico
-Raciocínio sistemático,com controle de variáveis
- Capacidade de pensamento hipotético
-Pensamento proporcional
-Capacidade de jogar com regras
-Descentração do pensamento
-Análise combinatória
-Autonomia moral



BECKER,F. e MARQUES,T.Estádios do Desenvolvimento.In.BECKER,F.Educação e Construção do Conhecimento,2ª ed.Porto Alegre:Artmed,2012
PIAGET,Jean:Seis Estudos de Psicologia.São Paulo.Forense Universitária,LTDA.17ª ed.,1990.

PIAGET.Jean.A Epistemologia Genética.Trad.Nathanael C.Caixeira.Petrópolis:Vozes,1971.

     Estádios do Desenvolvimento Cognitivo-JEAN PIAGET

"A Epistemologia genética de Jean Piaget tem como interesse estudar a gênese das estruturas cognitivas,explicando pela construção-daí construtivismo-mediante interação radical entre o sujeito e o objeto" (MARQUES,2005,p.50)


Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo tem seu início no nascimento e termina na vida adulta,superando a maturação puramente orgânica,acontece através das interações do sujeito com o meio ao qual está inserido e com a interação com o próprio objeto de aprendizagem,assim pode acontecer de forma diferente em cada indivíduo.O desenvolvimento é uma equilibração progressiva,passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de maior equilíbrio.Segundo os estudos de Jean Piaget,a criança em desenvolvimento passa por estádios,isto é,fases parecidas em seu processo de aprendizagem.A partir de suas interações,maturação e relações com o meio ela passa a desenvolver suas estruturas de aprendizagem,e a cada nova percepção desequilibra seus conceitos formando novos conceitos e estruturas,se desenvolvendo.
"Um estádio significa um corte,um patamar,uma fase,um período,uma etapa nitidamente distinta e irreversível que constitui uma organização estrutural equilibrada no processo de desenvolvimento"(PIAGET,1971).
A ordem ou sucessão das aquisições são constantes,não cronológicas ou ordinárias.Dependem da experiência anterior e não somente da maturação e depende do meio social,o que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estádio.Estas fases tem um caráter integrativo,ou seja,estruturas construídas numa dada idade se tornam parte integrante das estruturas da idade seguinte.

Esquemas

São estruturas que se modificam com o desenvolvimento mental e que tornam- se cada vez mais refinadas a medida que a criança torna-se mais apta a generalizar os estímulos.São responsáveis pelas estruturas cognitivas que processam as mudanças responsáveis pela assimilação e acomodação.

Estrutura

Estrutura é uma organização interna, não apenas cognitiva e psicológica, mas também e fundamentalmente biológica, neuronal ou cerebral, com a qual a criança organiza todas as suas ações ou interpreta tudo o que faz atribuindo coerência à diversidade dos seus fazeres.
A vantagem de se usar o conceito de estrutura, segundo Piaget, está no fato de se poder agrupar nesse conceito todas as ações da criança, no sentido tanto das classes quanto das relações.
Uma estrutura cognitiva não existe desde o nascimento. Ela é resultante de longos processos de construção. A explicação pelo insight, da Gestalt, não é, pois suficiente visto que não considera esses longos e minuciosos processos, no final dos quais se formam as estruturas que, ainda, passarão por um longo processo de generalização que progressivamente as consolida. A Gestalt tem o mérito de reconhecer as características de totalidade e de raízes biológicas (Piaget, 1936, p.352, §3) das estruturas intelectuais, mas não seu longo processo de formação produzido pela ação do sujeito.

Decalagens

Decalagem é o fenômeno de resistência a generalização de uma estrutura do conjunto ou dos estádios.Consiste na "repetição" ou "reprodução" do mesmo processo formador em diferentes idades.(PIAGET,1972/1975,p.365).Exemplo:Uma criança que tem a noção de conservação de substância ou matéria,ainda não a tem quando se refere a peso,o que ocorrerá mais tarde,e ainda mais tarde adquirará a noção de conservação de volume.
Decalagens Horizontais:Repetição ou reprodução do mesmo processo formador em diferentes idades,como por exemplo a noção de conservação da substância,peso e volume.
Decalagens Verticais:Reconstrução de uma estrutura por meio de outras operações.Como por exemplo um bebê que se desloca em seu espaço cotidiano,mas é incapaz de representar o mesmo espaço quando afastado dele(pensamento perceptivo) e depois,mais tarde,consegue fazer isso(plano representativo).(Montangero e Maurice-Naville, 1998,p.174)


Bibliografia:
BECKER,F. e MARQUES,T.Estádios do Desenvolvimento.In.BECKER,F.Educação e Construção do Conhecimento,2ª ed.Porto Alegre:Artmed,2012
PIAGET,Jean:Seis Estudos de Psicologia.São Paulo.Forense Universitária,LTDA.17ª ed.,1990.
PIAGET.Jean.A Epistemologia Genética.Trad.Nathanael C.Caixeira.Petrópolis:Vozes,1971.



sábado, 2 de dezembro de 2017

                 SOBRE CROCODILOS E AVESTRUZES

                                                                                           Lígia Assunção Amaral




“DEFICIÊNCIA: Refere-se a uma perda ou anormalidade de estrutura ou função: Deficiências são relativas a toda a alteração do corpo ou da aparência física, de um órgão ou uma função, qualquer que seja a sua causa, em princípio deficiências significam perturbações no nível de órgão”   (OMS/SNR,1989)



                             
A luta das pessoas com deficiência por igualdade de direitos e contra o preconceito é algo marcante em nossa sociedade. Mesmo tendo uma trajetória histórica importante de busca por direitos e respeito, as dificuldades e preconceito sofrido por essas pessoas ainda é uma realidade. A leitura do texto Sobre Crocodilos e Avestruzes, da autora Lígia Assunção Amaral, traz reflexões relevantes sobre esta temática, sendo a autora uma estudiosa deste campo e também deficiente, relata como enxerga os mitos e preconceitos que cercam suas limitações.
Tudo já se inicia na infância, onde as diferenças são muito observadas, onde surgem os apelidos e as discriminações. As diferenças estão sempre presentes em todas as relações, diferenças de sexo,raça,preferências, que embora indicam dessemelhanças, não criam clima extremamente conflitivos,ao contrário do que a autora chama de “significamente diferente”,que são as diferenças ligadas as estatísticas,a caráter estrutural e ao cunho psicossocial,as comparações de o quanto todos nós nos aproximamos ou não do “tipo ideal”.
O texto traz a ideia de estigma,ou seja,uma marca,algo que nos representa fortemente no corpo,no comportamento ou nas nossas inserções tribais. Isso se torna o que os outros visualizam em nós,o que somos. A deficiência é um forte estigma,que faz com que a sociedade veja somente a deficiência,sem olhar para o deficiente,percebe somente a limitação ignorando suas qualidades e capacidades. Ainda temos a ideia da patologização de desvio,ou seja,um grupo que está totalmente fora do padrão de normalidade imposto pela sociedade.
Como representação deste cenário de mitos e preconceitos,a ideia de crocodilos em um calabouço de um castelo são todos estes mitos,preconceitos,estereótipos e estigmas que cercam as pessoas com deficiência.
Mas quando temos a reflexão positiva,a mudança de pensamento sobre as capacidades das pessoas deficientes e os avanços nas politícas publicas de inclusão,a socialização e inserção dos deficientes na sociedade é como se construíssemos  pontes movediças sobre estes calabouços repletos de crocodilos,como nos castelos medievais.
Os mitos que afligem as pessoas com deficiência são facilmente identificados e presentes em nosso cotidiano.Por exemplo,ao considerar alguém deficiente como parte de um grupo incapaz de tudo,”coitadinhos” que necessitam de ajuda é uma situação infelizmente comum,que a autora nomeia de generalização indevida.Ou então,o que ela trata como correção linear,que é quando a pessoa deficiente é avaliada por sua deficiência,como parte de um grupo de pessoas onde todas são incapazes de certas coisas ou todas capazes de outras,desconsiderando a individualidade de cada sujeito.Existem ainda pessoas que acreditam que as deficiências são contagiosas,que existe um contagio osmótico com a proximidade ás pessoas e além disso,existem as dificuldades naturais que as pessoas tem em se relacionar,interagir com as pessoas deficientes,por conta destes mitos e preconceitos e pelo desconhecimento em relação a certas deficiências,as barreiras atitudinais.
Assim como,as pessoas com deficiência sofrem com estes ‘crocodilos “ que a cercam,também existe a dificuldade,que nós,não deficientes temos na interação com elas.Assim identifica-se certos mecanismos de defesa utilizados pelas pessoas ao tratar de pessoas deficientes,e estes mecanismos também são sinais de preconceitos e mitos.Por exemplo,encarando a deficiência como algo inexistente,que não faz diferença(simulação),considerando a deficiência como algo que não é tão ruim assim (atenuação),ou usando as qualidades do sujeito para minimizar as limitações(compensação).Estes são os avestruzes,ou seja,as maneiras de enfiar a cabeça no solo,desvinculando-se da realidade.
Vinculando estas ideias a minha prática pedagógica e a minha caminhada docente,percebo que a autora vem ao encontro do cenário que se desenrola cotidianamente em nossas escolas,onde buscamos promover a inclusão das crianças que apresentam deficiências.Como educadores, de modo geral,tememos receber um aluno com necessidades educacionais especiais,pois sabemos que temos carência de formação e estrutura adequada em nossas escolas e o medo de “não dar conta” é uma triste realidade e acredito que o maior “crocodilo” nas Escolas.Ainda mantemos a teoria do “coitadismo” ao lidarmos com estes alunos,tratando-os de forma milindrada e superprotetora em relação aos demais e usamos discursos prontos que apontam para as compensações ou atenuações,dizendo que estão progredindo e que são capazes,quando no fundo temos a sensação de não ter sucesso no atendimento destas crianças.Temos que repensar a prática docente inclusiva,considerando a identidade e as reais necessidades da criança deficiente,que deve ser tratada de forma igualitária e respeitosa,de maneira a promover o seu desenvolvimento e habilidades dentro de suas capacidades.A formação docente adequada e a garantia de politicas publicas que proporcionem o ambiente adequado a estes alunos é extremamente necessário para que a educação de pessoas deficientes seja de qualidade e que seja possível a inclusão na Escola.

 INCAPACIDADE:Refere-se a restrição de atividades em decorrência de uma deficiência.Incapacidades refletem as consequencias das deficiências em termos de desempenho e atividade funcional do indivíduo,as incapacidades representam perturbações ao nível da própria pessoa.

DESVANTAGEM:Refere-se a condição social de prejuízo resultante da deficiência e/ou incapacidade;as desvantagens refletem pois a adaptação do indivíduo e a interação dele com seu meio.


Referência:
Diferenças e Preconceitos na Escola:Alternativas Teóricas e Práticas/Coordenação de Julio Groppa Aquino.-São Paulo:Summus,1998.


IMPORTANTE:A trajetória de lutas pelos direitos...Assista o vídeo!