sábado, 2 de dezembro de 2017

                 SOBRE CROCODILOS E AVESTRUZES

                                                                                           Lígia Assunção Amaral




“DEFICIÊNCIA: Refere-se a uma perda ou anormalidade de estrutura ou função: Deficiências são relativas a toda a alteração do corpo ou da aparência física, de um órgão ou uma função, qualquer que seja a sua causa, em princípio deficiências significam perturbações no nível de órgão”   (OMS/SNR,1989)



                             
A luta das pessoas com deficiência por igualdade de direitos e contra o preconceito é algo marcante em nossa sociedade. Mesmo tendo uma trajetória histórica importante de busca por direitos e respeito, as dificuldades e preconceito sofrido por essas pessoas ainda é uma realidade. A leitura do texto Sobre Crocodilos e Avestruzes, da autora Lígia Assunção Amaral, traz reflexões relevantes sobre esta temática, sendo a autora uma estudiosa deste campo e também deficiente, relata como enxerga os mitos e preconceitos que cercam suas limitações.
Tudo já se inicia na infância, onde as diferenças são muito observadas, onde surgem os apelidos e as discriminações. As diferenças estão sempre presentes em todas as relações, diferenças de sexo,raça,preferências, que embora indicam dessemelhanças, não criam clima extremamente conflitivos,ao contrário do que a autora chama de “significamente diferente”,que são as diferenças ligadas as estatísticas,a caráter estrutural e ao cunho psicossocial,as comparações de o quanto todos nós nos aproximamos ou não do “tipo ideal”.
O texto traz a ideia de estigma,ou seja,uma marca,algo que nos representa fortemente no corpo,no comportamento ou nas nossas inserções tribais. Isso se torna o que os outros visualizam em nós,o que somos. A deficiência é um forte estigma,que faz com que a sociedade veja somente a deficiência,sem olhar para o deficiente,percebe somente a limitação ignorando suas qualidades e capacidades. Ainda temos a ideia da patologização de desvio,ou seja,um grupo que está totalmente fora do padrão de normalidade imposto pela sociedade.
Como representação deste cenário de mitos e preconceitos,a ideia de crocodilos em um calabouço de um castelo são todos estes mitos,preconceitos,estereótipos e estigmas que cercam as pessoas com deficiência.
Mas quando temos a reflexão positiva,a mudança de pensamento sobre as capacidades das pessoas deficientes e os avanços nas politícas publicas de inclusão,a socialização e inserção dos deficientes na sociedade é como se construíssemos  pontes movediças sobre estes calabouços repletos de crocodilos,como nos castelos medievais.
Os mitos que afligem as pessoas com deficiência são facilmente identificados e presentes em nosso cotidiano.Por exemplo,ao considerar alguém deficiente como parte de um grupo incapaz de tudo,”coitadinhos” que necessitam de ajuda é uma situação infelizmente comum,que a autora nomeia de generalização indevida.Ou então,o que ela trata como correção linear,que é quando a pessoa deficiente é avaliada por sua deficiência,como parte de um grupo de pessoas onde todas são incapazes de certas coisas ou todas capazes de outras,desconsiderando a individualidade de cada sujeito.Existem ainda pessoas que acreditam que as deficiências são contagiosas,que existe um contagio osmótico com a proximidade ás pessoas e além disso,existem as dificuldades naturais que as pessoas tem em se relacionar,interagir com as pessoas deficientes,por conta destes mitos e preconceitos e pelo desconhecimento em relação a certas deficiências,as barreiras atitudinais.
Assim como,as pessoas com deficiência sofrem com estes ‘crocodilos “ que a cercam,também existe a dificuldade,que nós,não deficientes temos na interação com elas.Assim identifica-se certos mecanismos de defesa utilizados pelas pessoas ao tratar de pessoas deficientes,e estes mecanismos também são sinais de preconceitos e mitos.Por exemplo,encarando a deficiência como algo inexistente,que não faz diferença(simulação),considerando a deficiência como algo que não é tão ruim assim (atenuação),ou usando as qualidades do sujeito para minimizar as limitações(compensação).Estes são os avestruzes,ou seja,as maneiras de enfiar a cabeça no solo,desvinculando-se da realidade.
Vinculando estas ideias a minha prática pedagógica e a minha caminhada docente,percebo que a autora vem ao encontro do cenário que se desenrola cotidianamente em nossas escolas,onde buscamos promover a inclusão das crianças que apresentam deficiências.Como educadores, de modo geral,tememos receber um aluno com necessidades educacionais especiais,pois sabemos que temos carência de formação e estrutura adequada em nossas escolas e o medo de “não dar conta” é uma triste realidade e acredito que o maior “crocodilo” nas Escolas.Ainda mantemos a teoria do “coitadismo” ao lidarmos com estes alunos,tratando-os de forma milindrada e superprotetora em relação aos demais e usamos discursos prontos que apontam para as compensações ou atenuações,dizendo que estão progredindo e que são capazes,quando no fundo temos a sensação de não ter sucesso no atendimento destas crianças.Temos que repensar a prática docente inclusiva,considerando a identidade e as reais necessidades da criança deficiente,que deve ser tratada de forma igualitária e respeitosa,de maneira a promover o seu desenvolvimento e habilidades dentro de suas capacidades.A formação docente adequada e a garantia de politicas publicas que proporcionem o ambiente adequado a estes alunos é extremamente necessário para que a educação de pessoas deficientes seja de qualidade e que seja possível a inclusão na Escola.

 INCAPACIDADE:Refere-se a restrição de atividades em decorrência de uma deficiência.Incapacidades refletem as consequencias das deficiências em termos de desempenho e atividade funcional do indivíduo,as incapacidades representam perturbações ao nível da própria pessoa.

DESVANTAGEM:Refere-se a condição social de prejuízo resultante da deficiência e/ou incapacidade;as desvantagens refletem pois a adaptação do indivíduo e a interação dele com seu meio.


Referência:
Diferenças e Preconceitos na Escola:Alternativas Teóricas e Práticas/Coordenação de Julio Groppa Aquino.-São Paulo:Summus,1998.


IMPORTANTE:A trajetória de lutas pelos direitos...Assista o vídeo!



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