SOBRE CROCODILOS E AVESTRUZES
Lígia Assunção Amaral
“DEFICIÊNCIA:
Refere-se a uma perda ou anormalidade de estrutura ou função: Deficiências são
relativas a toda a alteração do corpo ou da aparência física, de um órgão ou
uma função, qualquer que seja a sua causa, em princípio deficiências significam
perturbações no nível de órgão”
(OMS/SNR,1989)
A luta das pessoas com deficiência por igualdade de
direitos e contra o preconceito é algo marcante em nossa sociedade. Mesmo tendo
uma trajetória histórica importante de busca por direitos e respeito, as
dificuldades e preconceito sofrido por essas pessoas ainda é uma realidade. A
leitura do texto Sobre Crocodilos e Avestruzes, da autora Lígia Assunção
Amaral, traz reflexões relevantes sobre esta temática, sendo a autora uma
estudiosa deste campo e também deficiente, relata como enxerga os mitos e preconceitos
que cercam suas limitações.
Tudo já se inicia na infância, onde as diferenças
são muito observadas, onde surgem os apelidos e as discriminações. As
diferenças estão sempre presentes em todas as relações, diferenças de
sexo,raça,preferências, que embora indicam dessemelhanças, não criam clima
extremamente conflitivos,ao contrário do que a autora chama de “significamente
diferente”,que são as diferenças ligadas as estatísticas,a caráter estrutural e
ao cunho psicossocial,as comparações de o quanto todos nós nos aproximamos ou
não do “tipo ideal”.
O texto traz a ideia de estigma,ou seja,uma
marca,algo que nos representa fortemente no corpo,no comportamento ou nas
nossas inserções tribais. Isso se torna o que os outros visualizam em nós,o que
somos. A deficiência é um forte estigma,que faz com que a sociedade veja
somente a deficiência,sem olhar para o deficiente,percebe somente a limitação
ignorando suas qualidades e capacidades. Ainda temos a ideia da patologização
de desvio,ou seja,um grupo que está totalmente fora do padrão de normalidade
imposto pela sociedade.
Como representação deste cenário de mitos e
preconceitos,a ideia de crocodilos em um calabouço de um castelo são todos
estes mitos,preconceitos,estereótipos e estigmas que cercam as pessoas com
deficiência.
Mas quando temos a reflexão positiva,a mudança de
pensamento sobre as capacidades das pessoas deficientes e os avanços nas
politícas publicas de inclusão,a socialização e inserção dos deficientes na
sociedade é como se construíssemos
pontes movediças sobre estes calabouços repletos de crocodilos,como nos
castelos medievais.
Os mitos que afligem as pessoas com deficiência são
facilmente identificados e presentes em nosso cotidiano.Por exemplo,ao
considerar alguém deficiente como parte de um grupo incapaz de
tudo,”coitadinhos” que necessitam de ajuda é uma situação infelizmente
comum,que a autora nomeia de generalização indevida.Ou então,o que ela trata
como correção linear,que é quando a pessoa deficiente é avaliada por sua
deficiência,como parte de um grupo de pessoas onde todas são incapazes de
certas coisas ou todas capazes de outras,desconsiderando a individualidade de
cada sujeito.Existem ainda pessoas que acreditam que as deficiências são
contagiosas,que existe um contagio osmótico com a proximidade ás pessoas e além
disso,existem as dificuldades naturais que as pessoas tem em se
relacionar,interagir com as pessoas deficientes,por conta destes mitos e
preconceitos e pelo desconhecimento em relação a certas deficiências,as
barreiras atitudinais.
Assim como,as pessoas com deficiência sofrem com
estes ‘crocodilos “ que a cercam,também existe a dificuldade,que nós,não
deficientes temos na interação com elas.Assim identifica-se certos mecanismos
de defesa utilizados pelas pessoas ao tratar de pessoas deficientes,e estes
mecanismos também são sinais de preconceitos e mitos.Por exemplo,encarando a
deficiência como algo inexistente,que não faz diferença(simulação),considerando
a deficiência como algo que não é tão ruim assim (atenuação),ou usando as
qualidades do sujeito para minimizar as limitações(compensação).Estes são os avestruzes,ou seja,as maneiras de enfiar a cabeça no solo,desvinculando-se da realidade.
Vinculando estas ideias a minha prática pedagógica e
a minha caminhada docente,percebo que a autora vem ao encontro do cenário que
se desenrola cotidianamente em nossas escolas,onde buscamos promover a inclusão
das crianças que apresentam deficiências.Como educadores, de modo geral,tememos
receber um aluno com necessidades educacionais especiais,pois sabemos que temos
carência de formação e estrutura adequada em nossas escolas e o medo de “não
dar conta” é uma triste realidade e acredito que o maior “crocodilo” nas
Escolas.Ainda mantemos a teoria do “coitadismo” ao lidarmos com estes
alunos,tratando-os de forma milindrada e superprotetora em relação aos demais e
usamos discursos prontos que apontam para as compensações ou atenuações,dizendo
que estão progredindo e que são capazes,quando no fundo temos a sensação de não
ter sucesso no atendimento destas crianças.Temos que repensar a prática docente
inclusiva,considerando a identidade e as reais necessidades da criança
deficiente,que deve ser tratada de forma igualitária e respeitosa,de maneira a
promover o seu desenvolvimento e habilidades dentro de suas capacidades.A
formação docente adequada e a garantia de politicas publicas que proporcionem o
ambiente adequado a estes alunos é extremamente necessário para que a educação
de pessoas deficientes seja de qualidade e que seja possível a inclusão na
Escola.
INCAPACIDADE:Refere-se a restrição de atividades em decorrência de uma deficiência.Incapacidades refletem as consequencias das deficiências em termos de desempenho e atividade funcional do indivíduo,as incapacidades representam perturbações ao nível da própria pessoa.
DESVANTAGEM:Refere-se a condição social de prejuízo resultante da deficiência e/ou incapacidade;as desvantagens refletem pois a adaptação do indivíduo e a interação dele com seu meio.
Referência:
Diferenças e Preconceitos na Escola:Alternativas Teóricas e Práticas/Coordenação de Julio Groppa Aquino.-São Paulo:Summus,1998.
IMPORTANTE:A trajetória de lutas pelos direitos...Assista o vídeo!
muito bom obrigada, ajudou bastante.
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