SEMINÁRIO INTEGRADOR VII:
QUE ESCOLA É ESSA??
Em
uma reunião de professores juntamente com a equipe diretiva para discutir as
dificuldades dos alunos que se manifesta nos índices oficiais de avaliação. No
decorrer da reunião os professores se manifestam.
Professora Orquídea:
“Estou frustrada, tenho perdido meus
finais de semana preparando excelentes aulas. Na sala de aula faço boas
exposições dos conteúdos e quando passo os exercícios os alunos não conseguem
acertar nada, mesmo depois de ter repetido várias vezes a explicação.Acho que
estes alunos de hoje não querem estudar,não dão a menor atenção para o que eu
falo e só conversam.”
A
fala desta educadora,comprometida com a educação de seus alunos,mas frustrada
pelo não sucesso de seus processos de aprendizagem,nos remete a uma concepção
empirista da educação.O professor tradicional acredita que ele,e somente ele,
podem transmitir o conhecimento.Utiliza aulas expositivas,com o uso da
linguagem diretiva como instrumento de aprendizagem,exercícios de repetição e
compreende que o erro do aluno significa a sua não aprendizagem.A visão não
construtivista do conhecimento valorizam a transmissão,sendo,por isso mesmo,a
linguagem seu instrumento mais aprimoroso.Além de ser formalizada,isto é,o
aluno deve responder exatamente aquilo que o professor quer ouvir,trabalha por
paradigmas,numa visão ontológica das aprendizagens.”Em uma visão não
construtivista a resposta e a mensagem do professor é o que interessa.Em uma
visão construtivista é a pergunta ou situação problema que desencadeia as
crianças”(MACEDO,1992). Antes,
a criança era vista como um adulto em miniatura e a educação era transmitida
dos mais velhos para os mais novos, por isso a ênfase na transmissão, na cópia
e na linguagem.As repreensões de silêncio e o autoritarismo são a essência de
uma sala de aula tradicional.Neste modelo,o professor é o centro de todo o
processo pedagógico e o aluno,tabula rasa,incapaz de aprender por si só,é o
depósito de seus conteúdos.
Professora Margarida: ”Eu
também trabalhava assim, mas agora tenho trabalhado com desafios. Acho que os
alunos aprendem mais. Eles resolvem individualmente e depois discutem com os
colegas de grupo. Enquanto eles trabalham eu converso com eles, esclareço
dúvidas e coloco os questionamentos. Como fechamento, discutimos as soluções
que os grupos deram para os desafios”
A
postura da professora Margarida,ao contrário da professora orquídea,nos revala
uma concepção construtivista de educação, primeiro porque busca refletir sua
prática docente e mudar buscando estratégias para melhoria de sua prática
docente.”Educar exige reflexão crítica sobre a prática”(FREIRE,1996).
Ela
sabe que a presença do professor como mediador, provocador e motivador dos
processos de aprendizagem tem enorme importância,mas não esgota-se nele
mesmo,prolonga-se no aluno.O aluno só construirá um conhecimento novo se ele
agir e problematizar a própria ação e de seus mecanismos.O professor
construtivista crê na aprendizagem através da interação com os outros e com o
meio.Ele deve dominar muito bem os conhecimentos para discutir,gerar hipóteses
e indagações,sistematizando todo o processo.
Professora Rosa:
”Eu também acho que o professor precisa
escutar os seus alunos, saber quais são as dificuldades, quais são os
interesses.Eles definem o que vai ser trabalhado em aula,eu nem me meto.Pode
parecer bagunça,mas as crianças precisam de um ambiente que permita a expressão
de sua criatividade”
A
fala da professora Rosa nos leva a refletir sobre as concepções da escola
democrática e seus desdobramentos. O professor está presente, porém responde
dúvidas ou faz questionamentos quando consultado. Ele age como um mediador dos
processos de aprendizagem de seus alunos,que são totalmente participativos na
elaboração dos planos de aula e no desenvolvimento de seus processos de
conhecimento.A escola democrática tem os alunos como atores centrais do sistema
educacional,dessa forma,aprendem a ter iniciativa e em grupos de
trabalho,exercitam a formação da cidadania.”A partir do diálogo enfatiza-se a
reflexão,a investigação,a crítica,a análise,a interpretação e a reorganização
do conhecimento”(FREIRE,1991).
Professor Cravo:
”Tem uma grande diferença do planejamento
que utilizo na escola particular que eu trabalho. Os alunos daqui não tem
condições de acompanhar! Se eu der tudo isso que trabalho lá,acabo reprovando a
maioria.Daí tu já viu NE. Incomodação na certa!
Este
professor não se vê como o modificador do ambiente de aprendizagem, nem como o
transmissor de seu conhecimento. Baseia o seu trabalho na capacidade de seus
alunos, centrando neles o processo educativo.Esta concepção denominada de
apriorismo acredita que o aluno sabe ou não sabe e isso depende muitas vezes do
meio social em que está inserido ou de sua condição biológica.”A maturação
biológica é condição necessária ao desenvolvimento ,mas de modo algum
suficiente”(PIAGET,1959,P.55).O aluno pelas suas ações prévias,determinam a
ação- ou omissão- do professor.
Infelizmente
a gestão desta escola está longe de uma gestão democrática e participativa. O
diretor demonstra em sua fala uma gestão ditadora e repressiva,bem
diferente da organização de uma escola democrática que delibera em parceria com
os seguimentos escolares e com colegiados.Essa fala nos remete ao passado
trazido pelo texto Maquinaria Escolar,onde a educação acontece pela dominação
repressiva das classes,onde a escola prepara não para o conhecimento,mas para a
regulamentação e organização social,enclausurando e não permitindo o avanço
cognitivo,pelo contrário,promovendo a dominação das classes.
BECKER, Fernando. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. Educação
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Acesso em: 10 abr. 2018.
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MACEDO, Lino de. O
Construtivismo e sua função educacional. Educação e Realidade,
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VARELA, Julia et al. A Maquinaria Escolar. Teoria & Educação,
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Acesso em: 10 abr. 2018.
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