terça-feira, 22 de maio de 2018

 SEMINÁRIO INTEGRADOR VII:

                                  QUE ESCOLA É ESSA??

Em uma reunião de professores juntamente com a equipe diretiva para discutir as dificuldades dos alunos que se manifesta nos índices oficiais de avaliação. No decorrer da reunião os professores se manifestam.

Professora Orquídea: “Estou frustrada, tenho perdido meus finais de semana preparando excelentes aulas. Na sala de aula faço boas exposições dos conteúdos e quando passo os exercícios os alunos não conseguem acertar nada, mesmo depois de ter repetido várias vezes a explicação.Acho que estes alunos de hoje não querem estudar,não dão a menor atenção para o que eu falo e só conversam.”
A fala desta educadora,comprometida com a educação de seus alunos,mas frustrada pelo não sucesso de seus processos de aprendizagem,nos remete a uma concepção empirista da educação.O professor tradicional acredita que ele,e somente ele, podem transmitir o conhecimento.Utiliza aulas expositivas,com o uso da linguagem diretiva como instrumento de aprendizagem,exercícios de repetição e compreende que o erro do aluno significa a sua não aprendizagem.A visão não construtivista do conhecimento valorizam a transmissão,sendo,por isso mesmo,a linguagem seu instrumento mais aprimoroso.Além de ser formalizada,isto é,o aluno deve responder exatamente aquilo que o professor quer ouvir,trabalha por paradigmas,numa visão ontológica das aprendizagens.”Em uma visão não construtivista a resposta e a mensagem do professor é o que interessa.Em uma visão construtivista é a pergunta ou situação problema que desencadeia as crianças”(MACEDO,1992).Antes, a criança era vista como um adulto em miniatura e a educação era transmitida dos mais velhos para os mais novos, por isso a ênfase na transmissão, na cópia e na linguagem.As repreensões de silêncio e o autoritarismo são a essência de uma sala de aula tradicional.Neste modelo,o professor é o centro de todo o processo pedagógico e o aluno,tabula rasa,incapaz de aprender por si só,é o depósito de seus conteúdos.

Professora Margarida: ”Eu também trabalhava assim, mas agora tenho trabalhado com desafios. Acho que os alunos aprendem mais. Eles resolvem individualmente e depois discutem com os colegas de grupo. Enquanto eles trabalham eu converso com eles, esclareço dúvidas e coloco os questionamentos. Como fechamento, discutimos as soluções que os grupos deram para os desafios”
A postura da professora Margarida,ao contrário da professora orquídea,nos revala uma concepção construtivista de educação, primeiro porque busca refletir sua prática docente e mudar buscando estratégias para melhoria de sua prática docente.”Educar exige reflexão crítica sobre a prática”(FREIRE,1996).
Ela sabe que a presença do professor como mediador, provocador e motivador dos processos de aprendizagem tem enorme importância,mas não esgota-se nele mesmo,prolonga-se no aluno.O aluno só construirá um conhecimento novo se ele agir e problematizar a própria ação e de seus mecanismos.O professor construtivista crê na aprendizagem através da interação com os outros e com o meio.Ele deve dominar muito bem os conhecimentos para discutir,gerar hipóteses e indagações,sistematizando todo o processo.

Professora Rosa: ”Eu também acho que o professor precisa escutar os seus alunos, saber quais são as dificuldades, quais são os interesses.Eles definem o que vai ser trabalhado em aula,eu nem me meto.Pode parecer bagunça,mas as crianças precisam de um ambiente que permita a expressão de sua criatividade”
A fala da professora Rosa nos leva a refletir sobre as concepções da escola democrática e seus desdobramentos. O professor está presente, porém responde dúvidas ou faz questionamentos quando consultado. Ele age como um mediador dos processos de aprendizagem de seus alunos,que são totalmente participativos na elaboração dos planos de aula e no desenvolvimento de seus processos de conhecimento.A escola democrática tem os alunos como atores centrais do sistema educacional,dessa forma,aprendem a ter iniciativa e em grupos de trabalho,exercitam a formação da cidadania.”A partir do diálogo enfatiza-se a reflexão,a investigação,a crítica,a análise,a interpretação e a reorganização do conhecimento”(FREIRE,1991).

Professor Cravo: ”Tem uma grande diferença do planejamento que utilizo na escola particular que eu trabalho. Os alunos daqui não tem condições de acompanhar! Se eu der tudo isso que trabalho lá,acabo reprovando a maioria.Daí tu já viu NE. Incomodação na certa!
Este professor não se vê como o modificador do ambiente de aprendizagem, nem como o transmissor de seu conhecimento. Baseia o seu trabalho na capacidade de seus alunos, centrando neles o processo educativo.Esta concepção denominada de apriorismo acredita que o aluno sabe ou não sabe e isso depende muitas vezes do meio social em que está inserido ou de sua condição biológica.”A maturação biológica é condição necessária ao desenvolvimento ,mas de modo algum suficiente”(PIAGET,1959,P.55).O aluno pelas suas ações prévias,determinam a ação- ou omissão- do professor.

Diretor Antúrio: Mas eu estou preocupado com o aumento da indisciplina na nossa escola. Na semana passada fui nas aulas de alguns professores-não vou citar nomes-e encontrei a maior bagunça.O professor precisa ter o controle da turma,ele fala e os alunos atendem.A escola sempre existiu para mostrar para as novas gerações o que se espera dela:dominar os conteúdos e ser disciplinado.Quem não concorda com isso deve procurar outra escola.
Infelizmente a gestão desta escola está longe de uma gestão democrática e participativa. O diretor demonstra em sua fala uma gestão ditadora e repressiva,bem diferente da organização de uma escola democrática que delibera em parceria com os seguimentos escolares e com colegiados.Essa fala nos remete ao passado trazido pelo texto Maquinaria Escolar,onde a educação acontece pela dominação repressiva das classes,onde a escola prepara não para o conhecimento,mas para a regulamentação e organização social,enclausurando e não permitindo o avanço cognitivo,pelo contrário,promovendo a dominação das classes.





BECKER, Fernando. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. Educação e Realidade, Porto Alegre, p.89-96, 01 jun. 1994. Semestral. 19(1). Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2018.
TOSTO, Rosanei. Escolas Democráticas Utopias ou Realidade. Revista Pandora Brasil, ISSN 2175-3318. v. 4. 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2018.
 MACEDO, Lino de. O Construtivismo e sua função educacional. Educação e Realidade, Porto Alegre, p.25-31, 01 jun. 1993. 18(1). Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2018.
VARELA, Julia et al. A Maquinaria Escolar. Teoria & Educação, São Paulo, n. 6, p.68-96, 1992. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2018.

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