domingo, 24 de setembro de 2017

        Educação e as Relações Étnicos Raciais


                                     A Redação de Maria Claudia

Os brancos são muito diferentes dos negros.Mas depende do branco e depende do negro.Na minha caixa de lápis de cor,o branco não serve pra nada.Só o preto é que serve pra desenhar.Por isso,os dois são muito diferentes.Tem o giz e tem o carvão.Eles são iguais.Os dois servem para desenhar.Com o giz a gente desenha na lousa.Com o carvão a gente desenha um bigode na cara do Paulinho para a festa de São João...O papel é branco e é igualzinho ao papel preto chamado carbono que escreve embaixo tudo o que a gente escreve em cima.A noite é preta,mas o dia não é branco.O dia é azul.Então o preto da noite é só de noite.Não é igual nem diferente de nada.
                                        Pedro Bandeira


Infelizmente,nosso país,rico em história e cultura negra,é o país que mais se tem relatos de preconceito e discriminação racial.A Escola,como lugar de mudança e educação busca modificar esta situação através da reflexão e trabalho de construção da valorização da cultura negra,principalmente a autovalorização desta cultura,levando em conta a miscigenação brasileira.
Após uma trajetória importante de luta e busca de respeito a diversidade,se obteve legalmente ao direito de educar nas escolas em prol da valorização da cultura negra e desconstrução de toda uma história triste de preconceito racial,através das leis 10.639/2003 e 11.645/2008,que prevêm o ensino da história e cultura negra na Escola.
A intervenção do professor nas situações de preconceito e diversidade,assim como atividades e pesquisas que valorizem e tragam aos estudantes as contribuições das diferentes raças e sua relevância na construção da cultura brasileira são atitudes de educação social que formam cidadãos livres de racismo e que compreendam a importância da diversidade cultural brasileira e a valorizem como propriedade comum a todo o povo brasileiro.
Histórias,literatura,filmes,brincadeiras,pesquisas e diversas atividades podem servir de recursos para se trabalhar com as relações étnicos raciais,tanto os recursos que reforçam a cultura negra como os recursos que trazem um certo preconceito e devem ser usados como fonte de informações e discussões com os alunos.A história das próprias comunidades escolares,as vivências e até situações de preconceito vivenciadas pelas crianças no cotidiano escolar devem ser discutidas e utilizadas como recurso de aprendizagem e concientização na Escola.
Trabalhar com a ideia de muitas cores todas bonitas,mas ter o cuidado de não vincular a cor negra(preta) com algo negativo é importante!

Sugestões de atividades:

Filme: Kiriku e a Feiticeira
Ritmos musicais
Contos Africanos(costumamos usar somente contos europeus como Branca de Neve,Cachinhos Dourados...)
História brasileira:Zumbi dos Palmares
Lendas gaúchas:Negrinho do Pastoreio
Escritores:Carolina de Jesus,Solano Trindade,Elza Lucinda,Cuti,Esmeralda Ribeiro,Conceição Evaristo,Heloísa Pires,Geni Guimarães,Cecília Meireles,Vinícius de Morais,Manoel Bandeira,Carlos Drumondd de Andrade...
Literatura Infantil:
Bruna e a Galinha Dángola-Gergilga Almeida
Histórias Africanas pra Contar e Recontar-Rogério Andrade Barbosa
As Tranças de Bintou-Silviane Diouf
Ana e Ana-Célia Godoy
Crianças como Você-Anabel Kindersley
Menina Bonita do Laço de Fita-Ana Maria Machado
A Cor da Vida-Samiramis Paterno
O Menino Nito,Afinal Homem Chora?-Sônia Rosa
Gosto de Africa-Joel Rufino
O Menino Marrom-Ziraldo
Obax-André Neves
Chuva de Manga-James Runford
O Casamento da Princesa-Celso Cisto


Muitas musiquinha infantis de forma sutil acabam trazendo a ideia de que o branco é bonito,o que deve ser bem trabalhado pelos educadores.


Bibliografia:
Orientações e Ações para a Educação das Relações Etnico Raciais,MEC,Brasília,2006.

                             Oficina de Textos


"Antes do interesse pela escrita,há um outro:o interesse pela leitura.E mal vão as coisas quando só se pensa no primeiro,se antes não se consolidou o gosto pelo segundo.Sem ler,ninguém escreve"                   (José Saramago)


Tivemos a feliz oportunidade no Curso de Graduação em Pedagogia da UFRGS,de discutir e exercitar nossas habilidades de escrita com a profª Ivany Souza Ávila,em uma oficina de textos,que embora um pouco cansativa,muito produtiva no sentido de provocar a escrita e as habilidades que a envolvem.
Entre palavras,frases,definições de parágrafos e a escrita poética e descritiva ,podemos obter maior embasamento para as escritas que são realizadas semanalmente neste portfólio de aprendizagens.
Nós educadores temos muitas missões em nossa área de educação,mas acredito que a habilidade de se expressar de forma escrita é um dos importantes papeis desempenhados pelo professor,sendo assim,temos que exercitar esta importante forma de expressão e registro extremamente necessário a nossa formação e atuação docente.


                                                    A Escrita

"Nós,como estudantes de pedagogia,estamos vinculadas as inúmeras questões da educação,educação que se manifesta na sociedade,e por sua vez em cada família.
Escrevemos muito e sobre muitas coisas.
Mas no tocante,o que faz a diferença,é quando escrevemos sobre o que nos emociona,nossa essência.
Nossa essência é educar,mas antes de tudo,nossa essência é maternal,é familiar,é falar das relações e das atitudes que geram alegria e felicidade.
Na frente da folha de papel em branco,tem mães,corações emocionados e mentes preocupadas.Não só com o texto acadêmico,mas com a essência que quer fazer a diferença.Se desligar do filho que chora,do salário que não chegou,da família que espera a janta,do aniversário do final de semana.
Escrever...escrever...escrever...
Pensando nas aprendizagens como aluna da Universidade,mas muito mais,pensando na Escola,no aluno querido...
Escrever...escrever...escrever...
De forma espontânea?de forma acadêmica?
Tomara..."

      (Texto criado pelo meu grupo de colegas na oficina de textos 18/09/2017) 


COMPLEMENTANDO...

Também ao iniciarmos os estudos da interdisciplina Filosofia da Educação,fomos provocadas a pensar na escrita.
Pensamento Dogmático:Eu afirmo algo sem me preocupar em justificar aquilo que estou afirmando.
Pensamento Crítico:Aquele que justifica,através de argumentos e evidências aquilo que está se afirmando.
Argumento:É a justificativa de uma ideia,opinião,concepção,tese.                
Conclusão:Aquilo que se quer justificar.
Premissa:Aquilo que justifica a conclusão.

                      Argumentar é ter a intenção de convencer ou justificar!

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

                        O Velho Professor...

Se imaginarmos a figura de um bom professor,tradicionalmente falando,o que geralmente nos vem a mente é aquele professor sério,que mantém o absoluto silêncio da classe enquanto explica o conteúdo e enche o quadro  de informações,frente a uma sala de alunos organizados em classes enfileiradas,buscando absorver dele o conhecimento...Pois será esta a melhor postura de um educador?Será que todos os atentos ouvintes e silenciosos alunos estão realmente aprendendo?Afinal,o que é a aprendizagem e como ela acontece?
Na interdisciplina Desenvolvimento e Aprendizagem sob o Enfoque da Psicologia II,tivemos a oportunidade de refletir sobre o que é a aprendizagem e buscar compreender,através dos estudos sobre os modelos epistemológicos e pedagógicos atuais,como é a ação do professor e do aluno no processo de aprendizagem.
O perfil de educador citado acima,muito conhecido de todos nós,e ainda presente em muitas salas de aula de nosso cotidiano,apresenta uma concepção empirista de aprendizagem,um pensamento pedagógico diretivo,onde o aluno é uma folha de papel em branco,"tabula rasa",não sabe nada e vem a escola para receber conhecimento do professor que transmite a ele informações e conteúdos,através da linguística,oralidade e repetições."Um dos grandes pecados da Escola é desconsiderar tudo com que a criança chega a ela.A Escola decreta que antes dela não há nada"Paulo Freire,1997
Nesta concepção o professor ensina e o aluno aprende.Assim,infelizmente,o aluno depende totalmente do que o professor vai lhe passar e espera dele tudo,deixando de criticar,imaginar,construir,opinar.Renuncia assim o direito a cidadania e a participação.
"Para apresentar uma noção adequada de aprendizagem é necessário explicar primeiro como o sujeito consegue construir e inventar,e não apenas como ele repete e copia" Piaget,1975,p.88
Também existe um outro modelo de mestre,também muito presente em nossas escolas,que é o professor apriorista,de uma concepção pedagógica não diretiva,que coloca o aluno como o centro da aprendizagem,mas quase que sozinho.Este professor acredita que o aluno aprende por sí mesmo,ela já vem com condições hereditárias de aprendizagem.Ele,o professor,pode no máximo auxiliar a aprendizagem "despertando" o conhecimento que já existe nele.Piaget 1959,p.55,deixa claro que a maturação biológica é condição necessária do desenvolvimento,mas de modo algum suficiente.A relação aluno professor pode ser,neste caso,cruel,pois o aluno sabe ou não tem condições de aprender,assim pode ser facilmente rotulado de deficitário,marginalizado ou incapaz.
Mas,após os estudos epistemológicos de Piaget e suas teorias,assim como os estudos psicanalíticos de Freud,acontece um novo olhar sobre a aprendizagem e como esta se dá.A pedagogia relacional ou o construtivismo é uma concepção de aprendizagem,onde tanto o professor quanto o aluno são sujeitos ativos dentro do processo.O professor tem grande importância,mas sua ação não esgota-se nele mesmo,ela se prolonga nas ações dos alunos.Este professor entende que o aluno só construirá um conhecimento novo ,se ele agir e problematizar a própria ação,apropriar-se dela e de seus mecanismos.Através da observação dos materiais de aprendizagem,da experiência,da investigação,curiosidade e perturbação das novas informações em impacto com suas antigas estruturas de conhecimento propiciam o conhecimento novo.
Imaginemos agora...o professor que traz a sala de aula algum objeto que instigue a curiosidade de seus alunos,e estes perguntam,manipulam,investigam,se agrupam ou individualmente trocam ideias e buscam sanar as problemáticas que surgem,enquanto o professor em um papel motivador e mediador,participa ativamente de todo o processo de construção de conhecimento de seus alunos.
Afinal,qual é o professor que somos ou buscamos ser?Qual nossa concepção sobre as aprendizagens?

"O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas."
                                              Jean Piaget

Refletindo...




Referencias:
BECKER,Fernando.Educação e Construção do Conhecimento.2ª.ed.-Porto Alegre:PENSO,2012


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

                          Relatando situações de preconceito...


Ao relembrar situações de preconceito e desrespeito a diversidade,apesar de já ter presenciado muitas,dentro e fora da Escola,as que mais marcam são aquelas que vivemos na pele.Já passei por situações vexatórias por ser negra,por ser pobre ,por ser mulher e muitas vezes por ser cristã evangélica.O que não deveria ocorrer,pelo fato de vivermos em um país tão aberto as diferenças e com fortes discursos de respeito as diferentes culturas,mas infelizmente,ainda existe muitos paradigmas e tabus em nossa sociedade.

"Certa vez,eu esperava  ônibus em frente a Escola que trabalhei durante quatro anos com as turmas de ensino fundamental.Ao meu lado ,parou um rapaz,muito bem vestido e simpático e ao perceber que eu estava com o uniforme da instituição,começou a discursar sobre como já ouvia falar bem da Escola e de que como ficava sabendo de alunos muito inteligentes que estudavam ali,"apesar de ser uma Escola Pública..."dizia ele.Em um certo momento ele me pergunta:"Tu trabalhas nesta Escola não é?"Eu respondo que sim e ele completa a pergunta:"Na limpeza?"Imediatamente e na presença das demais pessoas que ali também aguardavam o coletivo,respondi:"Não,sou professora!"

Me deu até dó,a maneira que as pessoas olharam para aquele rapaz,que totalmente sem jeito e vermelho me pediu desculpas..."

 

Outra vez,passei por uma situação parecido ao me deslocar para a faculdade.Eu estava no ônibus,a caminha do Campus do Vale.Uma senhora,que assentou-se ao meu lado começou a conversar comigo,relatando que não suportava pegar todos os dias o ônibus lotado e ficar esperando o momento de se sentar.Dizia que pior era para quem iria até o final da linha.Comentei que desceria no final da linha,ela me questionou se eu morava na vila que tinha ali,eu disse que não,que estava indo para a UFRGS,então ela me olhou assustada e me perguntou:Mas o que tu vai fazer lá???Dessa vez eu é que fiquei constrangida em responder obviamente que iria estudar..."

 

 Já passei por diversas situações de preconceito,a maioria delas,o que é pior,sem a real intenção de fazê-lo,mas fazendo de uma forma espontânea,quase sem reflexão.E não só por questões raciais,mas por outras questões,até mesmo religiosas.Sempre fiquei preocupada,mas não ofendida,porque me orgulho de minha cultura,minha situações e minhas escolhas.Mas como educadora,me vejo na responsabilidade de educar para o respeito e para a diversidade,buscando uma sociedade que não seja tão preconceituosa e de fato,não só de discurso! 

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar."

Nelson Mandela



"Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo."

Paulo Freire

                              Pra Começar...Diversidade

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta."
                          Nelson Mandela


Ao iniciarmos o sexto eixo do Curso de Graduação em Pedagogia PEAD/UFRGS,já fomos desafiadas e provocadas a pensar em uma das questões que mais tem demandado o cotidiano escolar e o pensamento da sociedade atual,a diversidade.As interdisciplinas deste eixo buscam,juntas,trazer importantes reflexões com respeito a este tema e suas implicações.No primeiro encontro da interdisciplina Seminário Integrador VI,após nosso reencontro e acolhida,conseguimos discutir sobre as diversas situações de diversidade que estão presentes no cotidiano escolar, nas relações entre os alunos,a comunidade escolar e os professores.São stas as questões de gênero,de credo,de raça,de situação social e também as questões dos alunos portadores de necessidades educacionais especiais.
A Escola é o ponto de encontro social,diferentes culturas e pessoas convivem,interagem e buscam se socializar na Escola.


Refletindo sobre o papel do Professor...



Dentre tantas situações que geram o sofrimento da descriminação na Escola é a maneira com que a sociedade vê o professor e o valoriza,principalmente o professor de educação infantil.Esta discussão gerou muitas reflexões em nosso grupo de trabalho,neste momento oportunizado no encontro presencial.Ser professor,antigamente,era um previlégio muito grande,visto pela sociedade de forma em geral.Nos dias atuais,devido a desvalorização salarial e da classe de professores,a profissão docente passou a ser vista de forma diferente,principalmente,quando o professor atua nas turmas de educação infantil e anos iniciais.A professora de educação infantil,muitas vezes vista como a TIA QUE CUIDA e não como a PROFISSIONAL QUE ENSINA,mesmo que faça um louvável trabalho pedagógico e de construção do conhecimento,acaba sendo visualizada com o mesmo olhar de uma cuidadora,mãe,avó.As famílias de nossos alunos,assim como a sociedade como um todo,ainda não compreendeu o papel deste professor.Muitas das vezes,o próprio professor se deixa vencer pelos rótulos e passa a exercer realmente apenas um cuidado das crianças dissociado da responsabilidade de mediar seu desenvolvimento e aprendizagem.
Temos que ter uma postura e um discurso,permeados de ações educativas que levem aos nossos alunos desenvolverem a valorização das diferentes culturas e respeito às diversidades,mas para isso,é extremamente relevante sua autovalorização,ter claro a ideia de ser um profissional da educação e não deixar a busca pelo reconhecimento e valorização pessoal.


O processo de ensinar, que implica o de educar e vice-versa, envolve a “paixão de conhecer” que nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil. Por isso é que uma das razões da necessidade da ousadia de quem se quer fazer professora, educadora, é a disposição pela briga justa, lúcida, em defesa de seus direitos  (…).  Recusar a identificação da figura da professora com a da tia não significa, de modo algum,  menosprezar a figura da tia (…). Significa, pelo contrário, retirar algo fundamental à professora: sua responsabilidade profissional de que faz parte a exigência política por sua formação permanente. (…) Identificar professora como tia, (…), é quase como proclamar que professoras, como boas tias, não devem brigar, não devem rebelar-se, não devem fazer greve. Quem já viu mil tias fazendo greve, sacrificando seus sobrinhos, prejudicando-os no seu aprendizado?
(Paulo Freire em “Professora sim, Tia não: cartas a quem ousa ensinar”, 2005, p.11 e 12).