Primeiro Passo: Traçar uma linha de trabalho!
"Construtivismo não é uma prática ,ou um método,não é uma técnica de ensino nem uma forma de aprendizagem;não é um projeto escolar,é sim,uma teoria que permite (re)interpretar todas as coisas"
(BECKER,2001,p.72)
Como já relatado aqui,quando iniciei o Curso de Pedagogia já atuava em sala de aula e buscava,dentro de meus conhecimentos trazidos pelo Curso Normal e pela experiência,desenvolver um trabalho de aprendizagem significativa,onde os alunos participavam de diversas formas destes processos,me preocupando em oferecer atividades diversificadas,que não fossem massantes e empolgassem os alunos a aprender.Meu primeiro contato com o texto Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos do professor Fernando Becker,aconteceu no quarto eixo do PEAD,postando aqui minhas primeiras percepções,já me permitindo embasar o trabalho que realizava e perceber que era extremamente necessário que a aluno construísse as aprendizagens,mas eu demorei muito para deixar de acreditar na importância da minha transmissão de informações em sala de aula,até porque nesta época,trabalhava com os anos iniciais do ensino fundamental,onde os conteúdos ainda eram hipervalorizados dentro da Escola.
Nos eixos finais do Curso revisitamos o texto,mas foi no período de estágio curricular obrigatório,que ele me serviu de apoio para traçar,independente de tema,atividades ou projetos, a linha de trabalho que embasaria todo o trabalho desenvolvido com a turma de Educação Infantil,o Maternal II.
A rotina da educação infantil,permeada de momentos de "cuidado",ou seja,a alimentação,a higiene,o pátio,escovação,soninho e outras situações características da educação infantil,já acabam por fazer com que o educador desfoque de sua linha pedagógica,acabando,se este assim permitir,tornando-se um ambiente de atividades e práticas cotidianas e vazias de reflexão.As crianças da educação infantil,por serem menores,precisam de atividades mais direcionadas,acompanhadas e de pouca duração,já que a concentração desta faixa etária é menor.Esse fato,faz com que muitos educadores da educação infantil,planejem atividades muito simples,sem envolvimento das crianças,como pinturas ou desenhos sem sentido,desligadas de um contexto de aprendizagem.A triste e cruel ideia de que a criança nada sabe(tábula rasa) e por isso o professor(que tudo sabe) dá os "trabalhinhos",cenário muito comum ainda nas escolas de educação infantil."O professor fala e o aluno escuta,o professor decide o que fazer e o aluno executa,o professor "ensina" e o aluno "aprende".
Infelizmente,pela experiência que tenho em sala de aula,também o cenário empirista e apriorista se revelam nas salas de aula repletas de crianças,enfileiradas,sentadas uma após outra,copiando,decorando,repetindo informações e ouvindo os conhecimentos que vem do professor.
Para Freire,1979, o professor, além de ensinar, passa a aprender; e o aluno, além de aprender, passa a ensinar. Nesta relação, professor e alunos avançam no tempo. As relações de sala de aula, de cristalizadas - com toda a dose de monotonia que as caracteriza - passam a ser fluídas. O professor construirá, a cada dia, a sua docência dinamizando seu processo de aprender Os alunos construirão, a cada dia, a sua discência, ensinando, aos colegas e ao professor, novas coisas. Mas, o que avança mesmo nesse processo é a condição prévia de todo aprender ou de todo conhecimento, isto é, a capacidade construída de, por um lado, apropriar-se criticamente da realidade física e/ou social e, por outro, de construir sempre mais e novos conhecimentos.
A minha maior certeza ao iniciar o estágio,certeza fruto destas reflexões,era de que não podia ser assim.Eu precisava,por meio de um planejamento significativo e atividades estimuladoras,trilhar um caminho de sentidos e significados,observar habilidades e traçar estratégias para confrontar as defasagens cognitivas de desenvolvimento,por meio da construção dos conhecimentos,assumindo um papel de motivadora e mediadora das descobertas e aprendizagens.Durante o estágio,também ficou evidente,que outros momentos da rotina,não só o da atividade propriamente dita,contribuem para as aprendizagens na educação infantil.As aprendizagens ocorrem por meio de todas essas interações e relações das crianças com os objetos de aprendizagem.
"Que o aluno aja sobre o material significativo e desafiador,que o aluno responda as provocações provocadas pelo material,ou que se aproprie,em um segundo momento,não mais do objeto,mas dos mecanismos provocados pela sua ação sobre o material".
Segundo Becker,2001,construtivismo é a construção dos conhecimentos mediante ação sobre o objeto de aprendizagem,formação de estruturas assimiladoras em conjunto com a condição prévia e a maturação biológica necessária.Becker tem todo o seu trabalho de pesquisa baseado na epistemologia genética piagetiana,que defende a capacidade do aluno de aprender.
Para Piaget,1977, mentor por excelência de uma epistemologia relacional, não se pode exagerar a importância da bagagem hereditária nem a importância do meio social.O que ele rejeita, no entanto, é a crença de que a bagagem hereditária já traz, em si,programados os instrumentos (estruturas) do conhecimento e segundo a qual bastaria o processo de maturação para estes instrumentos manifestarem-se em idades previsíveis,segundo estágios cronologicamente fixos (apriorismo). Rejeita, de outro lado, que a simples pressão do meio social sobre o sujeito determinaria nele mecanicamente, as estruturas do conhecer (empirismo). Para Piaget, o conhecimento tem início quando o recém-nascido age assimilando alguma coisa do meio físico ou social. Este conteúdo assimilado, ao entrar no mundo do sujeito, provoca, aí, perturbações, pois traz consigo algo novo para o qual a estrutura assimiladora não tem instrumento. Urge, então, que o sujeito refaça seus
instrumentos de assimilação em função da novidade. Este refazer do sujeito sobre si mesmo é a acomodação. É este movimento, esta ação que refaz o equilíbrio perdido; porém, o refaz em outro nível, criando algo novo no sujeito. Este algo novo fará com que as próximas assimilações sejam diferentes das anteriores, sejam melhores: equilibração majorante, isto é, o novo equilíbrio é mais consistente que o anterior. O sujeito constrói - daí, construtivismo - seu conhecimento em duas dimensões complementares, como conteúdo e como forma ou estrutura; como conteúdo ou como condição prévia de assimilação de qualquer conteúdo.
Sendo assim,o professor Becker,baseado na epistemologia genética de Piaget e nas ideias trazidas por Freire,traz neste texto,Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos,uma reflexão muito forte com relação a linha de trabalho relacional,que permite,tanto ao professor como ao aluno,construirem de forma significativa seus conhecimentos.De acordo com essas reflexões,busquei em meu estágio,propor estratégias e atividades de provocação e interação das crianças da educação infantil com as mais variadas situações de aprendizagem.
BECKER,Fernando.Modelos pedagógicos e Modelos epistemológicos.Educação e Realidade.Porto Alegre,p.89-96,01 de junho,1994.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 6. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979. 218p.
PIAGET, Jean et alii. Recherches sur l’abstraction réfléchissante. Paris, P.U.F., 1977. 2v, p.
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