quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

REFLETINDO SOBRE PÁSSAROS ENGAIOLADOS E PÁSSAROS LIVRES






"Há escolas que são gaiolas.Há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo.Pássaros engaiolados são pássaros sob controle.Engaiolados,seu dono pode levá-los para onde quiser.Pássaros engaiolados tem sempre um dono.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados.O que elas amam são pássaros em voo.Existem para dar aos pássaros coragem para voar.Ensinar o voo,isso elas não podem fazer,porque o voo já nasce dentro dos pássaros.O voo não pode ser ensinado.Só pode ser encorajado."
RUBEM ALVES 



Rubem Alves ao trazer este cenário das gaiolas e das asas,provoca uma reflexão relevante e profunda sobre como concebemos a aprendizagem ,e como a conduzimos em nossas turmas ,dentro de nossas Escolas.
Na interdisciplina de Seminário Integrador IV,ao ler,refletir e manifestar meu pensamento em relação a esta obra, deste autor extraordinário,fiquei em primeiro momento impactada e constrangida em repensar a minha prática pedagógica,na época,nas turmas de anos iniciais do ensino fundamental.
Hoje,ao final da graduação,com ainda um pouco mais de caminhada no cenário escolar e atuando nas turmas de Educação Infantil,a ideia das gaiolas e das asas voltam ainda com maior força.
As escolas que são gaiolas,facilmente identificadas pelo seu método ou pensamento em relação ao ensino,são marcadas pela ação de decorar,copiar, reproduzir informações e atitudes,pensar de maneira a qual é incentivado a pensar,diferente das escolas que são asas,aquelas que trazem o conhecimento,e a partir dele permitem que o aluno elabore a  sua opinião,que ele possa a partir das informações,conceitos e relações com o meio e objetos de aprendizagem construir seus conhecimentos.
Na Educação Infantil ainda é mais extrema a atitude do "engaiolamento" ou do "encorajamento ao voo" dos "pássaros".As crianças das turmas de Educação Infantil passam muito mais tempo na Escola e suas atividades,vai além do "pedagógico" da questão.Elas se alimentam na Escola,fazem sua higiene,repouso,momentos de pátio e rodas de conversa.As crianças menores precisam explorar e expressar com seu corpo o espaço escolar e serem desafiadas em seu desenvolvimento inicial,sua linguagem e autonomia.

"O sujeito da educação é o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que 

 quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento

 do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era a

 “ferramenta” e “brinquedo” do corpo. Nisso se resume o programa educacional do

 corpo: aprender ferramentas, aprender brinquedos. “Ferramentas” são conhecimentos

 que nos permitem resolver os problemas vitais do dia-a-dia. “Brinquedos” são todas

 aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria

 à alma"

Neste caso,as "escolinhas" com suas salinhas pequenas,cadeirinhas,horários rigorosamente monitorados,turmas compostas por faia etária onde todos são tratados iguais e definidos por rótulos como "usa fralda-não usa fralda" ou "chupa bico-não chupa bico" são as gaiolas de Rubem Alves está falando,sem contar os 'trabalhinhos" de pintar com o giz de cera(me refiro aos que são fora de um contexto pedagógico).Não é uma crítica,pois já fiz parte deste cenário.
Se trata de uma reflexão sobre como estamos pensando o desenvolvimento de nossas crianças,de como são motivadas a explorar e expressar seus pensamentos,de como oferecemos temas de sentido e significado e de como somos motivadores de suas autonomia.Dar asas,encorajar o voo.
Estagiar nas turmas de educação infantil me trouxe alguns esforços importantes.
Como professora dos anos iniciais,que sempre buscou dar asas e encorajar o voo,a rotina agitada,os brinquedos espalhados e as atividades cheias de bagunça e sujeira da educação infantil me deixavam muito nervosa,parecia que o barulho das crianças representasse falta de domínio docente e que a bagunça que acontecia na sala era falta de controle do professor.Com as muitas reflexões,embasamento teórico relevante e,principalmente a parceria da supervisão de estágio e experiência de muitos docentes da área,consegui reconstruir meu pensamento em relação a isso,compreendendo que a aprendizagem para ser construído requer movimento,mudança.barulho e muitas vezes,se tratando de pequenos alunos,certa bagunça.
Retirei as gaiolas do meu fazer docente,compreendendo como e onde os limites e as combinações entram e onde é preciso permitir o movimento em sala de aula.
Com certeza,eu opto por escolas asas,e que devemos mais do que nunca,banir as gaiolas da educação que reprimi e promove a limitação das aprendizagens e dos pensamentos infantis.   




Representar o corpo no tamanho natural






Aula de culinária(manusear,criar,comer)


    
Atividade de pintura com os pés em espaço livre











Conceber a aprendizagem dentro de uma pedagogia relacional,construtivista,baseada no interacionismo,requer do educador uma busca permanente de pela inovação,por conhecimentos teóricos conceituais,experimentação,criticidade e uma postura mediadora e motivadora das aprendizagens,e isto é um pensamento,não um projeto ou atividade em sí. Mas ousar diversificar o espaço,os materiais, as propostas e as interações é um passo importante dentro deste processo.  


ALVESRubem. Estórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984. 108p. 6. Gaiolas ou Asas? (p. 29).


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